18 de jul. de 2022

A Paixão Segundo G.H. - Clarice Lispector

A Paixão Segundo G.H. é um romance escrito pela brasileira Clarice Lispector em 1964. É o meu livro favorito da autora e  esta obra, como tantas outras da Clarice, toca em pontos extremamente íntimos da alma humana. 

Na obra, não é dito o nome da protagonista, somente as suas iniciais: G.H. Também não se sabem muitos detalhes da mulher que dá nome ao livro. Pode-se aferir que se trata de uma mulher de classe média alta que se encontra dentro de um círculo social constituído de pessoas da mesma classe socioeconômica. Tal ponto é importante, já que a protagonista delega as funções do cuidado da casa a uma emprega doméstica, funcionária esta que a patroa pouco conhece e possui algumas suposições a seu respeito. Após G.H demitir a funcionária, decide averiguar o quarto onde a mesma dormia, agora desocupado. Para a surpresa de G.H. o quarto, diferente do restante da casa, possuía luz natural e um sentimento vida, mesmo que vazio. Diante de tal supressa, a protagonista decide explorar o guarda-roupa, uma das poucas coisas que restaram naquele ambiente. Ao abri-lo, depara-se com uma desagradável surpresa: uma barata. Diante do asqueroso animal, G.H, por reflexo, mata o inseto e vê suas entranhas brancas saírem do corpo.  É este evento banal que causa a epifania da personagem. G.H. entra num fluxo de ideias incontrolável e questionador, em que passa por momentos paradoxais, em que se vê como tudo e nada,  filosóficos, questionando sua existência e motivadores, e sociais, ao questionar a sociedade e seus valores.

Ao tocar no mais íntimo da alma humana, Clarice Lispector desafia o leitor a fazer o mesmo. Tal desafio torna a obra um exercício difícil para algumas pessoas que não conseguem se conectar com o fluxo intimista e intenso do pensamento de G.H.. A dificuldade em se ligar com A Paixão Segundo G.H. não possui correlação alguma com nível acadêmico ou intelectual, mas, sim, com a capacidade de olhar para dentro de si e conseguir se aventurar com uma face tão íntima nossa que, muitas vezes, ignoramos e tendemos a evitar. 

Trechos da Obra

"A minha coragem foi a de um sonâmbulo que simplesmente vai."
"Criar não é imaginação, é correr o grande risco de se ter a realidade."
"Viver não é coragem, saber que se vive é a coragem."
"Seria simplório pensar que o problema moral em relação aos outros consiste em agir como se deveria agir, e o problema moral consigo mesmo é conseguir sentir o que se deveria sentir?" 
"Eu via que o inferno era isso: a aceitação cruel da dor, a solene falta de piedade pelo próprio destino, amar mais o ritual de vida que a si próprio."
"Ser humano não deveria ser um ideal para o homem que é fatalmente humano, ser humano tem que ser o modo como eu, coisa viva, obedecendo por liberdade ao caminho do que é vivo, sou humana."
"Pois preciso saber exatamente isto: estou sentindo o que estou sentindo, ou estou sentindo o que queria sentir? Ou estou sentindo o que precisaria sentir?"
"Quem vive totalmente está vivendo para os outros, quem vive a própria largueza está vivendo uma dádiva, mesmo que sua vida se passe na incomunicabilidade de uma cela."
"Desistir é a escolha mais sagrada de uma vida. Desistir é o verdadeiro instante humano. [...] A desistência é uma revelação."


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